Segunda-feira, 31 de Julho de 2006
Em sonhos vi uma espada cuja beleza e presença ficaram marcadas no meu espírito, estava enterrada numa terra de cor de barro. No mesmo sonho fui apresentado a uma mulher de cabelos castanhos, ela olhou através de mim, passou pelo que mostro ao mundo e tocou na parte que mais escondo. Acordei.
De frente para um espelho tratei da barba de 5 dias, lavei os dentes e ensaiei uma expressão facial mais animada. Depois do duche, e com a ajuda de um punhal afiado, cravei umas runas na minha carne evocando um antigo feitiço que aprendi na adolescência, feitiço este para atrair boas energias e protecção no início de uma nova jornada.
A caminho do trabalho, em pleno autocarro, só pensava na mulher de cabelos castanhos, em que pensou ela quando tocou na minha matéria mais escondida? Sei que os sonhos têm a sua própria existência e textura, não são apenas imagens de um cérebro que descansa; são símbolos poderosos como as runas que tenho na minha carne. Quando se vive a par com os nossos sonhos mergulhamos na mais pura complexidade da realidade, deixamos de viver para ganhar dinheiro ou para nos reproduzirmos, passamos a viver com uma diferente profundidade.
A mulher de cabelos castanhos mexeu comigo, porque atraem-me as pessoas que nos conseguem ver para além das nossas superficialidades, às quais não precisamos de mostrar a nossa podridão ou as nossas virtudes porque elas sabem que lá estão. Essas pessoas não esperam mais de nós a não ser o que podemos dar, e assim poderemos simplesmente maravilhá-las com a nossa magia espontânea. E, claro, mulheres são mesmo o meu ponto fraco. Procurá-la tornou-se numa meta a atingir, saber o que achou do que viu e tentar ver através do seu espírito, de forma a dar a segurança que estou ao nível dela. Ou talvez apenas para viver um momento romântico e ter um boa história para contar quando for velho.
E o que significa a espada? Garanto que desta vez não se refere a um objecto mas a um juramento, sei-o por intuição. Quem somos deriva das opções que fazemos e as opções que faço equilibram-se numa filosofia representada por aquela espada. Não vos cansarei a mente com pormenores acerca dessa filosofia, pelo menos, por hoje, apenas vos direi que como no sonho, está enterrada numa terra cor de barro e que esta terra se chama rotina e está cercada por prédios de betão e outros membros do ambiente urbano.
Felizmente, ao longo do dia consigo erguer a espada e viver o seu caminho, não sempre mas com a prática está a ser mais fácil, o truque é não deixar a espada ficar enterrada.
Sexta-feira, 28 de Julho de 2006
Caminhar ao Sol, derreter com o calor, idealizar uma garrafa de água ou um copo de limonada. Os pensamentos correm soltos como se fugissem de um obscuro pesadelo, ao longe ouço o barulho de umas obras. (Tenho fome)
Finalmente chego a uma sombra e ali fico, um Oásis do qual não quero sair. Sei que o deserto espera por mim, de novo. Sinto-me isolado do mundo, num ilhéu existencial, com pensamentos divididos e descontínuos. Febril de novos projectos,à rasca do meu pé, apetece-me fugir para o dia de amanhã (ou será no seguinte?).
Estas teclas estão a tomar conta de mim, tratam-me bem e insistem que volte a tocar nelas para construir novas frases. Raio de calor que estou a sentir... E a fome? Bolas, tenho mesmo que sair daqui e resolver a situação.
Aqui vou eu em direcção ao fim do mundo!
Quinta-feira, 27 de Julho de 2006
Quarta-feira, 26 de Julho de 2006
Fui enterrado vivo algures em Janeiro, lembro-me das conversas que mantive com alguns vermes (nem todos são má gente). Não querendo generalizar muito, há três tipos de vermes: os ratos de biblioteca, os auto-eróticos e os conversadores. Prefiro estes últimos, os temas de conversa são muito variados (desde jardinagem a astrofísica).
A humidade debaixo da terra não me faz muito bem aos ossos e a falta de contacto com outros seres humanos é muito reduzida (se ainda fosse uma vala comum...), mas o que realmente me fez sair da cova foi a fome, ai que fomeca com que estava que estraguei a campa toda (rosas, jarros e orquídeas espalhadas sem preocupação estética).
Alguns dos meus bens materiais já tinham sido enviado para umas crianças em África e a minha namorada já tinha afogado as mágoas com 13 homens diferentes. Mal eu sabia do problema principal: as finanças.
Explicar nas finanças que fora enterrado vivo foi uma complicação, mais depressa convencia-os que há 2000 anos atrás uma pessoa tinha ressuscitado e que era o filho de Deus.
Recebi de um tal de Vilar uma papelada com legislação, sem pachorra para aquilo mostrei-lhe o meu sorriso Pepsodent (depois de estar a viver debaixo da cova a higiene oral assumiu novas dimensões). E assim continuo a minha vida, de relações cortadas com a burocracia financeira... e a cabeça do Vilar pendurada na minha sala (que bem que fica, junto ao jarro de flores).
Terça-feira, 25 de Julho de 2006
O bom das viagens é que provocam sempre alguma alteração em nós, nenhuma pessoa fica indiferente ao caminho que faz para chegar a algum local. Seja o caminho para o trabalho, a estrada para Meca ou o atalho no bosque que conduz ao Mundo das fadas, é sempre um espaço em que estamos vulneráveis a estímulos não previsiveis e como animais ficamos atentos e prontos a uma adaptação ao meio.
Que alterações é que esta viagem trará aos meus dias? Se estou aqui é por opção, aguardo algum resultado.
Segunda-feira, 24 de Julho de 2006
O cheiro da estação de comboio não deixa dúvidas sobre a sua idade, na bilheteira comprei o tão desejado bilhete. O dinheiro só me permitiu comprar de ida, a volta fica para uma melhor possibilidade. O destino é o fim do mundo.
Fim do mundo... lembra-me da promessa que fizemos, iriamos estar juntos até ao fim do mundo. A verdade é que ainda não chegamos ao fim do mundo e já não estamos juntos.
Perguntei em que linha teria que apanhar o comboio correcto, não tive que esperar muito por ele e nem precisei que alguém me respondesse.
Antes de começar a viagem olhei para o céu e vi uma estrela cadente, sempre tive jeito para as apanhar no meu campo de visão.