Quarta-feira, 26 de Julho de 2006
Fui enterrado vivo algures em Janeiro, lembro-me das conversas que mantive com alguns vermes (nem todos são má gente). Não querendo generalizar muito, há três tipos de vermes: os ratos de biblioteca, os auto-eróticos e os conversadores. Prefiro estes últimos, os temas de conversa são muito variados (desde jardinagem a astrofísica).
A humidade debaixo da terra não me faz muito bem aos ossos e a falta de contacto com outros seres humanos é muito reduzida (se ainda fosse uma vala comum...), mas o que realmente me fez sair da cova foi a fome, ai que fomeca com que estava que estraguei a campa toda (rosas, jarros e orquídeas espalhadas sem preocupação estética).
Alguns dos meus bens materiais já tinham sido enviado para umas crianças em África e a minha namorada já tinha afogado as mágoas com 13 homens diferentes. Mal eu sabia do problema principal: as finanças.
Explicar nas finanças que fora enterrado vivo foi uma complicação, mais depressa convencia-os que há 2000 anos atrás uma pessoa tinha ressuscitado e que era o filho de Deus.
Recebi de um tal de Vilar uma papelada com legislação, sem pachorra para aquilo mostrei-lhe o meu sorriso Pepsodent (depois de estar a viver debaixo da cova a higiene oral assumiu novas dimensões). E assim continuo a minha vida, de relações cortadas com a burocracia financeira... e a cabeça do Vilar pendurada na minha sala (que bem que fica, junto ao jarro de flores).